A Jumenta de Balaão – por Gabriel Campos Medeiros
«E adeus eu disse sem deixar saudade. E me esqueceram, quero acreditar, e fico satisfeito que me esqueçam. Devo alguma coisa a eles?.»
«E adeus eu disse sem deixar saudade. E me esqueceram, quero acreditar, e fico satisfeito que me esqueçam. Devo alguma coisa a eles?.»
Nesta vida, estamos sempre em busca da beleza. Mas essa é uma busca paradoxal: quando a alcançamos, percebemos que encontrá-la de modo fugaz não é o bastante. Somos seres mortais; no entanto, não queremos que nossa experiência do belo termine. Nosso desejo por ele é também desejo de eternidade e é por isso, Diotima revela a Sócrates no Banquete, que éros é querer possuir o belo eternamente. Mas isso não é tudo. Indo além de Platão, nas Confissões, Agostinho vê claramente: nosso desejo não pode ser satisfeito por nada que existe neste mundo. Ele é maior que o mundo e mira o ser em toda sua plenitude.
- por Hugo Langone E este mistério jaz na matéria mais bruta que pode haver: do cotidiano à baixeza de um rei embriagado. “A ficção”, confirma a senhorita O’Connor, “diz respeito a tudo o que é humano, e nós somos feitos de pó; e, se ficar empoeirado é algo que lhe desperta desprezo, você não deveria tentar escrever ficção. Não se trata de um ofício grandioso o suficiente”. Pois o artista conserva precisamente a loucura do santo: a de estar metido na poeira de si, dos outros, do mundo, entrevendo nesta secura, nesta fraqueza, uma presença que talvez ele não saiba como, mas acaba por insinuar.
por Lucas Petry Bender -- "É impossível calar a voz da consciência; na melhor das hipóteses, pode-se dialogar com ela – e que melhor maneira de fazer isso senão através da leitura e da escrita? Em Ioga (“Yoga”, trad. Mariana Delfini, ed. Alfaguara, 2023), Emmanuel Carrère parte do propósito de escrever um breve manual da prática da meditação e da ioga, para terminar envolvido na rede de narrativas que são tecidas à medida em que escreve, passando, no trajeto, por uma profunda crise depressiva.
Pois é assim que o homem vive quando abrem-se as tuas chagas começa no próprio coração a tua fonte para trabalhar a partir das margens
Duas, três, quatro, cinco e quantas mais? A cada vez que a sede volta, aumenta E sempre me empurrando, cega e lenta, Àquele mesmo poço dos meus pais.
Poucos dias após a internação da filha, resolveu voltar ao sítio em que vivera com os pais da infância à juventude, quando se mudou para o Rio. Precisava livrar-se da angústia, extirpar de si o remorso e reaver-se com o passado. Ao entrar pela estrada de terra pôde enfim ver a casa. Enxergava-a tão distante daquilo que fora, que não reconheceu as paredes que a constituíam. A impressão de abandono tornava-a esmaecida, fazendo-o sentir uma tristeza branda, como se ele se lembrasse de alguém a quem amara e que o tempo afastou.
"Foi de repente, quando eu tinha uns oito anos. Peguei um caderno e saí escrevendo uma história. Era uma história bem imbecil, que demonstrava uma falta de lógica enorme, mas eu me diverti escrevendo. Durante toda a adolescência escrevi histórias policiais ou de aventura."
- por Bernardo Lins Brandão "Somos todos epicuristas. É no universo de Epicuro e em seu Jardim que nós, contemporâneos, vivemos, nos movemos e somos. Não que para isso precisemos ser filósofos: nosso epicurismo nos mais visceral que nossas vãs filosofias."
É nessa perspectiva que mais nos impressionam filmes como Coringa (“Joker”, 2019, dirigido por Todd Phillips) e Batman (“The Batman”, 2022, direção de Matt Reeves), o primeiro com seu lirismo sanguinário, o segundo com seu fascínio pelas trevas, ambos protagonizados por anjos decaídos e vingativos, como flores que desabrocham na escuridão e na sujeira, nutridos pelas enfermidades de Gotham City. É sobretudo por mérito da direção de arte, da cenografia e da trilha sonora que a obscura beleza do submundo de Gotham nos conquista,