Notas sobre a demonologia de Dostoiévski – por Christiano Galvão (#mêsdosubsolo)

Um homem sozinho está sempre em má companhia, assim sentenciou o poeta Paul Valéry, propondo-nos um paradoxo fulgurante o bastante para ensejar um vislumbre daquela sombria realidade existencial que as Escrituras e a Tradição da Igreja, que os místicos, os teólogos e até poetas, como Dante Alighieri e John Milton, designaram como o “Inferno”, mas que Dostoiévski – com um prosaísmo mais verossímil, porém não menos angustiante – designou como o Subsolo.

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“Feérico Luar no Copacabana Palace”, novo livro de Alexandre Soares Silva – Resenha por João P. Cirilo

Em um país literariamente saudável, a mera menção ao fato “Feérico Luar No Copacabana Palace é o novo livro do escritor Alexandre Soares Silva” seria um evento por si só. “Alexandre publicou um novo livro!’ seria a manchete do principal jornal. Milhões de resenhas, pessoas comentando nas ruas sobre o lançamento e revistas culturais das mais diversas discutindo o livro. Não é o caso do Brasil, pelo menos com livros bons de verdade. E Feérico Luar No Copacabana Palace é, de fato, um livro bom de verdade. 

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O meu Kafka – um ensaio e duas traduções por André Klojda (03/06/24 centenário da morte de Franz Kafka)

Praga é a cidade na qual viveu meu avô paterno, nascido no ano seguinte à morte de Kafka. E isto quer dizer justamente o que o leitor está a pensar: absolutamente nada. Bom, é nada, mas é alguma coisa; é uma conexão, forçada e remota, que gosto de pensar ter com o escritor. Cada qual tem os autores de que gosta, e, entre estes, tem os seus autores, aqueles que não apenas falam, mas sussurram ao pé do ouvido. Para mim, Kafka é destes últimos.

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Notas portenhas do subsolo: “O TÚNEL”, de Ernesto Sabato

Com aforismo não se discute; sente-se ou não sua verdade, seu engenho, sua visão. Penso em diversos momentos na implacável lucidez de Kafka ao longo da leitura da formidável novela do argentino Ernesto Sabato, O túnel (“El túnel”, ed. Carambaia, trad. Sérgio Molina, 2023, publicado originalmente em 1948), como penso no parentesco do narrador-protagonista com os homens do subsolo criados por Dostoiévski.

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Tentações do Subsolo – Dostoiévski, René Girard e a poética da imitação (#mêsdosubsolo)

Memórias do Subsolo é uma amostra de 150 páginas do que Augusto dos Anjos chamou de "a gargalhada da última derrota"; um riso altivo, despeitado e nada alegre. É o diário de um homem em quem até a honestidade é uma mentira; que confessa baixezas, inventa ódios e rancores, apenas para mascarar a sua humana indigência em relação aos que estima, ama e idolatra.

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“Elegia 1938” um poema do subsolo – por Pedro Sette-Câmara

O subsolo pode ter recebido esse nome na Rússia, mas a experiência é universal o suficiente para poder ser discernida nas diversas literaturas. No Brasil, o poema mais subsolesco de que me lembro é "Elegia 1938", de Carlos Drummond de Andrade, que se presta muito bem a ser lido à luz de Dostoiévski.

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Grande Desejo: Mímesis – René Girard e João Guimarães Rosa

- por Christiano Galvão "Sem precipitações nem polêmicas, através de uma releitura atenta do que Riobaldo narra, talvez achemos mais do que essas obviedades que parecem reduzir Grande Sertão: Veredas a uma mera pegadinha ou "mentira romântica"; talvez achemos a "verdade romanesca" que, segundo o pensador francês René Girard, caracteriza a genialidade de escritores do porte de João Guimarães Rosa.

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