A Arte é uma tirana – o que lhe deve dar o artista? (Conferência de Hugo Langone)
No fundo, é a caridade mesma a resposta a todas as coisas – na arte e fora dela. Eis o dever do artista na condição de artista e do artista na condição de bom homem.
No fundo, é a caridade mesma a resposta a todas as coisas – na arte e fora dela. Eis o dever do artista na condição de artista e do artista na condição de bom homem.
Nessa perspectiva, o Bruxo do Cosme Velho se aproxima do Bardo Inglês: Shakespeare, em suas peças e poemas, faz uso de elementos sobrenaturais para expressar a psicologia das personagens. O espectro em “Hamlet”, as três bruxas de “Macbeth”, o lenço perdido em “Otelo”, o onírico em “A Tempestade” e o fantástico em “Sonho de uma Noite de Verão” são componentes fundamentais para a construção dos dramas interiores shakespearianos.
Então laureada, Adélia Prado é uma poeta realizada: exprimiu em linguagem eficaz um intenso convívio com Deus e o mundo, com o dado e o cultivado. Aqui, como nos boletins de guerra, a simplicidade da frase não corresponde à complexidade da façanha
A segunda passagem de Fernando Diniz como treinador pelo Fluminense é motivo de revistas e cadernos de cultura. Ou, ainda, caso o tivéssemos, de nosso melhor bardo: Canta-me, ó Musa, a fúria do Dinizismo...
Terminada a leitura de Torto arado, de Itamar Vieira Junior, vamos logo ao motor da narrativa, Bibiana perde a língua quando ela e Belonísia estavam brincando com uma faca e, daí em diante, tornam-se mais unidas.
Um homem sozinho está sempre em má companhia, assim sentenciou o poeta Paul Valéry, propondo-nos um paradoxo fulgurante o bastante para ensejar um vislumbre daquela sombria realidade existencial que as Escrituras e a Tradição da Igreja, que os místicos, os teólogos e até poetas, como Dante Alighieri e John Milton, designaram como o “Inferno”, mas que Dostoiévski – com um prosaísmo mais verossímil, porém não menos angustiante – designou como o Subsolo.
Em um país literariamente saudável, a mera menção ao fato “Feérico Luar No Copacabana Palace é o novo livro do escritor Alexandre Soares Silva” seria um evento por si só. “Alexandre publicou um novo livro!’ seria a manchete do principal jornal. Milhões de resenhas, pessoas comentando nas ruas sobre o lançamento e revistas culturais das mais diversas discutindo o livro. Não é o caso do Brasil, pelo menos com livros bons de verdade. E Feérico Luar No Copacabana Palace é, de fato, um livro bom de verdade.
Praga é a cidade na qual viveu meu avô paterno, nascido no ano seguinte à morte de Kafka. E isto quer dizer justamente o que o leitor está a pensar: absolutamente nada. Bom, é nada, mas é alguma coisa; é uma conexão, forçada e remota, que gosto de pensar ter com o escritor. Cada qual tem os autores de que gosta, e, entre estes, tem os seus autores, aqueles que não apenas falam, mas sussurram ao pé do ouvido. Para mim, Kafka é destes últimos.
Com aforismo não se discute; sente-se ou não sua verdade, seu engenho, sua visão. Penso em diversos momentos na implacável lucidez de Kafka ao longo da leitura da formidável novela do argentino Ernesto Sabato, O túnel (“El túnel”, ed. Carambaia, trad. Sérgio Molina, 2023, publicado originalmente em 1948), como penso no parentesco do narrador-protagonista com os homens do subsolo criados por Dostoiévski.
Memórias do Subsolo é uma amostra de 150 páginas do que Augusto dos Anjos chamou de "a gargalhada da última derrota"; um riso altivo, despeitado e nada alegre. É o diário de um homem em quem até a honestidade é uma mentira; que confessa baixezas, inventa ódios e rancores, apenas para mascarar a sua humana indigência em relação aos que estima, ama e idolatra.