Descrição dos Sinais de Dom Sebastião Primeiro – por David Carvalho

"Depois ouve o Freixo de Espada à Cinta tecer uma loa às virtudes guerreiras desses antigos Reys portugueses que sonhavam não estarem acabados os tempos de ouro da cavalaria, quando uma dúzia de corcéis montados em tiro arrepiava o esqueleto dos vanguardistas de qualquer hoste estrangeira"

Continue ReadingDescrição dos Sinais de Dom Sebastião Primeiro – por David Carvalho

Seu Arlindo – por Gabriel Coelho Teixeira

Foi no deslocamento de alguns poucos minutos de bonde elétrico, num trecho da Avenida Rio Branco, que me deparei com a figura de Seu Arlindo. Era início de tarde, faltava pouco pro meio-dia, o calor do Sol ainda era agradável. Tomei o bonde na Cinelândia, querendo apenas evitar a caminhada até a Presidente Vargas, onde eu desceria, três pontos à frente. Sentei próximo a uma das entradas, no canto da janela, o assento ao lado ficando vago.

Continue ReadingSeu Arlindo – por Gabriel Coelho Teixeira

Oblívio – por Matheus Bensabat

Poucos dias após a internação da filha, resolveu voltar ao sítio em que vivera com os pais da infância à juventude, quando se mudou para o Rio. Precisava livrar-se da angústia, extirpar de si o remorso e reaver-se com o passado. Ao entrar pela estrada de terra pôde enfim ver a casa. Enxergava-a tão distante daquilo que fora, que não reconheceu as paredes que a constituíam. A impressão de abandono tornava-a esmaecida, fazendo-o sentir uma tristeza branda, como se ele se lembrasse de alguém a quem amara e que o tempo afastou.

Continue ReadingOblívio – por Matheus Bensabat

O velório da bela desconhecida

- por Marc Enrique Moret "Enquanto jogávamos punhados de terra no caixão, percebíamos pela primeira vez a solidão de nossas casas, a estreiteza de nossos sonhos, a baixeza de nossos ideais, diante do caixão da morta que morreu de susto. Mas ao pôr do sol sabíamos que tudo seria diferente: no São Conrado a lembrança da bela assustada viveria nos corações; e antes de tudo que fizéssemos de bom, teríamos pensado duas ou três vezes na morta de laços brancos que derreteu o remorso dos homens e mulheres. "

Continue ReadingO velório da bela desconhecida

Soraia – por Douglas Lobo

- por Douglas Lobo “Soraia se debatia. Arranhava os antebraços dele com as unhas. Através da água, Bernardo via o rosto dela se contrair, os olhos arregalados. Só a perdia de vista, por alguns segundos, quando uma onda quebrava sobre ele, os sulcos de espuma remanescentes a lhe dificultarem a visão. ”

Continue ReadingSoraia – por Douglas Lobo

Morte Térmica

- por Marcel Novaes “A imagem na moeda era o rosto de um homem, de perfil, com algumas palavras em volta. Com um movimento da mão, ele fez a moeda virar. Do outro lado, havia um número 5 e a imagem de uma águia, pousada sobre uma coisa redonda. Dentro da coisa redonda, uma suástica. Em volta disso, as letras pareciam ser Deutsches Reich 1938”

Continue ReadingMorte Térmica

Otelo – por Andre Klojda

"Seus olhos perdidos foram fisgados pela moça que passava saltitante, sorrindo para o dia e para o mundo inteiro – sorriu também para ele, o pipoqueiro, que, por um momento, sentiu-se aliviado do fardo da melancolia. A alegria da moça tinha esse poder. Infelizmente, ela era rápida, leve, quase flutuava, e logo sumiu entre as pessoas e as árvores."

Continue ReadingOtelo – por Andre Klojda

O Caso Misterioso do Assassínio do Relojoeiro

- Gabriel Coelho Teixeira A lua vai alta. Abaixo, uma rua paira deserta. A madrugada avança. Na via pública as lâmpadas são escassas. Os halos de luz provenientes da queima do querosene são fracos, impotentes contra a força opressiva da noite. Em vez de se oporem à escuridão, incorporam-se nela, evocando ares fantasmagóricos.

Continue ReadingO Caso Misterioso do Assassínio do Relojoeiro

Heloísa

- por Matheus Bensabat Quando Heloísa completou a última volta na coroa, percebeu que a filha se encaminhava para a sala. Deixou o bastidor sobre a mesa e guardou os carretéis na caixa de costura, mirando-a. Amanda dirigiu-lhe um olhar pesaroso e culpado, desviando-o em seguida, encostando as costas no batente da porta. As olheiras destacavam-se no rosto alvo, e os passos, curtos e cadenciados, mostravam-na acuada. A mãe deteve-se, primeiro, nos machucados da mão, que ela não conseguira ocultar, e pelo olhar da filha, entendeu tudo. Heloísa começava a sofrer.

Continue ReadingHeloísa