Éros como nostalgia infinita do ser – por Bernardo Lins Brandão

Nesta vida, estamos sempre em busca da beleza. Mas essa é uma busca paradoxal: quando a alcançamos, percebemos que encontrá-la de modo fugaz não é o bastante. Somos seres mortais; no entanto, não queremos que nossa experiência do belo termine. Nosso desejo por ele é também desejo de eternidade e é por isso, Diotima revela a Sócrates no Banquete, que éros é querer possuir o belo eternamente. Mas isso não é tudo. Indo além de Platão, nas Confissões, Agostinho vê claramente: nosso desejo não pode ser satisfeito por nada que existe neste mundo. Ele é maior que o mundo e mira o ser em toda sua plenitude.

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O Deus Oculto no Canto do Córner, um romance de Milton Gustavo – por Christiano Galvão

- por Christiano Galvão - 'Descobrir um deus oculto no canto do corner pode ser tão espantoso quanto descobrir no boxe o motivo para uma obra literária absolutamente excepcional. Tal é o caso destas memórias que, embora ficcionais, são todas feitas daquelas verdades e ironias que somente os escritores prontos sabem manejar. E tal é o caso de Milton Gustavo que, já pronto, aqui estreia mostrando não ser comum nem de todos os dias este balanço igual e cabal entre violência e arte.'

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O Escritor, entre Herodes e o Profeta – uma lição de T.S. Eliot, Fujimura e Flannery O’Connor

- por Hugo Langone E este mistério jaz na matéria mais bruta que pode haver: do cotidiano à baixeza de um rei embriagado. “A ficção”, confirma a senhorita O’Connor, “diz respeito a tudo o que é humano, e nós somos feitos de pó; e, se ficar empoeirado é algo que lhe desperta desprezo, você não deveria tentar escrever ficção. Não se trata de um ofício grandioso o suficiente”. Pois o artista conserva precisamente a loucura do santo: a de estar metido na poeira de si, dos outros, do mundo, entrevendo nesta secura, nesta fraqueza, uma presença que talvez ele não saiba como, mas acaba por insinuar.

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A ficção assume o controle: “Ioga”(2023) de Emmanuel Carrère

por Lucas Petry Bender -- "É impossível calar a voz da consciência; na melhor das hipóteses, pode-se dialogar com ela – e que melhor maneira de fazer isso senão através da leitura e da escrita? Em Ioga (“Yoga”, trad. Mariana Delfini, ed. Alfaguara, 2023), Emmanuel Carrère parte do propósito de escrever um breve manual da prática da meditação e da ioga, para terminar envolvido na rede de narrativas que são tecidas à medida em que escreve, passando, no trajeto, por uma profunda crise depressiva.

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Everybody hates Itamar — notas sobre Torto arado

"Estou começando a ler Torto Arado, de Itamar Vieira Junior (Leya, 2019), que se inicia com uma recordação de infância na qual as irmãs Bibiana e Belonísia, xeretando um baú da avó, talvez uma praticante de macumba ou adepta do candomblé — não sei bem, pois aparecem, por vezes, expressões generalistas como “feiticeiros”, “feiticeira” e “suas crenças” —,

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Orwell e as Máquinas

Escritor difícil de se fazer caber em uma “caixinha”, socialista crítico do stalinismo, Orwell é muito mais conhecido pela sua ficção do que pelos seus ensaios e artigos. Porém, Viagem ao cais de Wigan, livro encomendado pelo Left Book Club inglês, serve de perfeito exemplo dessa natureza de Orwell, intragável aos lados da “guerra cultural”. Ao mesmo tempo profissão de fé no socia

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Mordomos e Patrões – P. G. Wodehouse

(Tradução de Ronaldo B. Giovannetti) "Pelham Grenville Wodehouse (1881-1975) foi certamente um dos maiores escritores cômicos da literatura inglesa. Criador da dupla Bertie Wooster e seu sagaz mordomo Jeeves, dentre inúmeros outros personagens. Escreveu pouca não-ficção. Entre 1914 e 1923, a revista americana Vanity Fair encomendou a ele alguns artigos e ensaios, que foram posteriormente reescritos para publicação no livro Louder and Funnier. No ensaio cômico abaixo, que faz parte dessa coletânea, Wodehouse trata da sua predileção por mordomos."

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