Dinizismo, Ascensão e Queda – um testemunho por André Klojda

A segunda passagem de Fernando Diniz como treinador pelo Fluminense é motivo de revistas e cadernos de cultura. Ou, ainda, caso o tivéssemos, de nosso melhor bardo: Canta-me, ó Musa, a fúria do Dinizismo…


Escrevo do ponto de vista de testemunha histórica. Ninguém me contou: há décadas estou presente tanto nas vitórias épicas quanto nas derrotas acachapantes. Assim, testemunhei tricolores de cinquenta, sessenta anos afirmarem que nunca tinham visto um Fluminense como aquele de 2023.


Clubismo à parte, partilho da mesma opinião: foram massacres impiedosos, domínio total e absoluto. Os 7 no Volta Redonda, os 4 na final contra o Flamengo, os 5 no River – estas foram apenas consequências das atuações de um time que jogava possuído pela ferocidade do Pelida. E, é verdade, tal qual o herói, também precisou contar com os bons favores dos deuses para alcançar a glória.


Meu filho ouvirá sobre o que vi. E, perdoem-me os torcedores de ocasião, desde os anos 90, quando nasci, vi e vivi de perto cada etapa do itinerário tricolor — a série C, a tragédia de 2008, a redenção contra o Boca no Maracanã, no último 4 de novembro, e tudo o mais. Por sinal, não me esqueço inclusive das bizarras derrotas da primeira passagem de Diniz pelas Laranjeiras.

Aliás, aquele time de 2019, com elenco limitadíssimo, embora só fizesse perder, atuava melhor do que este de 2024, campeão em título da América e repleto de estrelas. Aí se pode enxergar o tamanho da queda, da espiral trágica da qual somos ora cativos.

E de quem é a culpa? Do Diniz, dos jogadores, do presidente? De todos eles, mas, de certo modo, pobre é a vida de quem diuturnamente busca culpados, a ignorar que ascensões e quedas são muitas vezes regidas por fatores além da nossa compreensão. Os prisioneiros da lógica obtusa, porém, arvoram-se de certezas à medida que seus antolhos tornam-se mais apertados. Eu os aconselharia a lerem mais poetas e menos portais de notícias, mas decerto eles não estão interessados nos meus conselhos.

Não pretendo isentar de responsabilidade quem a tem, e Diniz, por óbvio, comandante do navio, tem parte fundamental em seu naufrágio. Mas, aqui, meu problema é com quem busca no futebol uma reprodução da eficiência fabril. Quer dizer, não é meu problema, cada um faz o que bem entender; mas, como eles se avolumam mais e mais, é preciso vez ou outra que haja um marcado contraponto. A felicidade do torcedor não é fruto apenas de taças, ao menos a daquele torcedor que vive do seu clube, e não do mero resultado objetivo. Porque, se o futebol é tão somente um jogo de onze contra onze, a correr atrás da bola, ele não é nada; mas se é mais do que isso, então ele é imenso, um confronto de possibilidades cósmicas e implicações existenciais. É como acredito que seja.

Isto posto, antes que me alongue, não digo que fui contra o fim da Era Diniz. Tampouco fui a favor. Mas não sou obrigado a ter lado nisso: sou torcedor, não dirigente. No fim das contas, resta-me a paixão pelo Fluminense e pelo futebol, que há de terminar apenas quando eu não mais estiver aqui para continuar essa história — ou, talvez, nem então, e meu sentimento tricolor rodrigueanamente se propague pelos séculos dos séculos.

Quanto ao Dinizismo, creio que estes não tenham sido seus acordes finais. Mas pouco me interessa bancar o oráculo. Gosto é dos movimentos do corpo de baile, que serão sempre mais sedutores do que apertar porcas e parafusos numa engenhoca qualquer.