O Pote de doces – conto de Gabriel Coelho Teixeira

Era uma tarde remansosa de domingo quente e abafado. Na varanda do casarão, o senhor proprietário de terras oscilava preguiçosamente na cadeira de balanço, indo e vindo, indo e vindo, a barriga estufada e pesada do almoço. Ao lado dele, na mesa, estava a esposa, entretida em alguns afazeres pessoais. Em certa altura, a mulher decide chamar pela mucama.

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Entrevista com Alexei Bueno & Questionário de Proust

Alexei Bueno nasceu em 1963, no Rio de Janeiro. É poeta, crítico, ensaísta, tradutor e editor. Publicou recentemente sua "Poesia Completa e Traduzida" (G. Ermakoff Casa Editorial, 2023). Como editor, foi responsável, entre outros tantos trabalhos, pela publicação da "Obra Completa de Augusto dos Anjos" (Nova Aguilar, 1994) e de uma edição comentada de "Os Lusíadas" (Nova Fronteira, 2018).

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Seu Arlindo – por Gabriel Coelho Teixeira

Foi no deslocamento de alguns poucos minutos de bonde elétrico, num trecho da Avenida Rio Branco, que me deparei com a figura de Seu Arlindo. Era início de tarde, faltava pouco pro meio-dia, o calor do Sol ainda era agradável. Tomei o bonde na Cinelândia, querendo apenas evitar a caminhada até a Presidente Vargas, onde eu desceria, três pontos à frente. Sentei próximo a uma das entradas, no canto da janela, o assento ao lado ficando vago.

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O Caso Misterioso do Assassínio do Relojoeiro

- Gabriel Coelho Teixeira A lua vai alta. Abaixo, uma rua paira deserta. A madrugada avança. Na via pública as lâmpadas são escassas. Os halos de luz provenientes da queima do querosene são fracos, impotentes contra a força opressiva da noite. Em vez de se oporem à escuridão, incorporam-se nela, evocando ares fantasmagóricos.

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O Pedinte

Tão logo o vi, desviei o olhar. Ergui o pulso, fingi conferir as horas. Até acelerei o passo, para transparecer ar de pressa, tamanha a ponto de me tirar a atenção do mais ao redor. Fiz que passei despercebido, sem notá-lo sentado ao chão, a mão erguida. Sem ouvir-lhe o rogo por esmolas, “– dez centavos, senhor”.

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