– Traduzidos e selecionados por David Carvalho
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1º – O pensamento que quer ser sempre justo se paralisa. O pensamento progride quando caminha entre injustiças simétricas, como entre duas fileiras de enforcados.
2º – A maturidade do espírito começa quando deixamos de nos sentir encarregados do mundo.
3º – Este século de pedagogia proletária predica a dignidade do trabalho, como um escravo que calunia o ócio inteligente e voluptuoso.
4º – Somente de causas perdidas se pode ser partidário irrestrito.
5º – A ideia inteligente produz prazer sensual.
6º – A sabedoria não consiste em se moderar por horror ao excesso, mas por amor ao limite.
7º – A inteligência não se aquieta na síntese, mas na tensão dos contrários.
8º – As águas que a inteligência não revolve são puras, mas insípidas.
9º – A alma cresce para dentro.
10º – A alma bem nascida admite a existência de inferiores, para que não a igualem aos superiores que admira.
11º – A sabedoria se reduz a não ensinar a Deus como se devem fazer as coisas.
12º – No cultivo da lucidez culmina a cultura.
13º – Nem pensar prepara para viver, nem viver prepara para pensar.
13º – O problema autêntico não exige que o resolvamos, mas que tratemos de vivê-lo.
14º – A inteligência só plagia quando não emprenha o que rouba.
15º – Sempre se trata de suicídio quando algo autêntico morre.
16º – O ceticismo é a humildade da inteligência.
17º – Só é nobre o que dura.
18º – Não há vitória espiritual que não tenha de ser reconquistada a cada dia.
19º – Somente a quietude e a rotina nos entregam a polpa das coisas, das essências, dos seres.
20º – Quem pretende amadurecer deve ser indiferente ao tédio. As civilizações são o resplendor de monotonias pacientes.
21º – O primeiro passo da sabedoria está em admitir, com bom humor, que nossas ideias não têm por quê interessar a ninguém.
22º – Neste século de multidões transumantes que profanam todo lugar ilustre, a única homenagem que um peregrino reverente pode render a um santuário venerável é o de não o visitar.
23º – O homem não possui sua inteligência: sua inteligência visita-o.
24º – Para educar a alma é necessário submetê-la à presença dos mesmos muros, à paz rotineira e monótona da mesma paisagem sob o mesmo céu.
25º – A disciplina não é tanto uma necessidade social como uma urgência estética.
26º – Viver com lucidez uma vida simples, calada, discreta, entre livros inteligentes, amando a alguns poucos seres.
27º – Culto é o homem que não converte a cultura em profissão.
28º – Civilização é tudo o que a universidade não pode ensinar.
29º – Quem tiver curiosidade de medir sua estupidez, que conte o número de coisas que lhe pareçam óbvias.
30º – O ininteligível é a região onde a alma, enfim, respira.
31º – Verdadeiro aristocrata é quem tem vida interior. Seja qual for sua origem, sua patente ou sua fortuna.
32º – O supremo aristocrata não é o senhor feudal em seu castelo, mas o monge contemplativo em sua cela.
33º – No homem cultivado a cultura não se justapõe à vida cotidiana. Culto é o homem que transforma em reflexos fisiológicos os mais nobres produtos do espírito.
34º – O triunfo de quem não duvida de si mesmo é de uma majestade tediosa.
35º – A classe média da inteligência é lamurienta e gemebunda.
36º – Para não atuar como pedagogos indignados, devemos nos converter em genealogistas da imbecilidade. Classificar estupidezes ou investigar sua origem apaziguada.
37º – A “torre de marfim” tem má fama entre os habitantes de tugúrios intelectuais.
38º – Chamamos de inteligentes os que se equivocam de determinada maneira.
39º – O pensamento é indefinido em ambas direções: não conhece conclusões últimas nem princípios primeiros.
40º – A liberdade, para o democrata, não consiste em poder dizer tudo o que pensa, mas em não ter de pensar em tudo o que diz.
41º – A ação é o refúgio das inteligências assustadas.
42º – Alguns manejam suas ideias com elegância hereditária, outros com torpeza de novo rico.
43º – As almas que não são teatro de conflitos são cenários vazios.
44º – Toda concordância é tediosa.
45º – O pensamento próprio chega a aborrecer tanto quanto a própria cara.
46º – Ainda mais tedioso que o trabalho é seu panegírico.
47º – O fomento da cultura torna-a doente.
48º – Cada indivíduo chama “cultura” à soma das coisas que observa com respeitoso tédio.
49º – Educar não consiste em colaborar com o livre desenvolvimento do indivíduo, mas em apelar ao que todos têm de decente contra o que todos têm de perverso.
50º – A inteligência não envelhece, mas fica datada.
51º – A providência concede somente a alguns poucos homens o direito de ser autênticos.
Tanto a estética como a ética pedem a gritos que os demais se apressem em se falsificar.
52º – O indivíduo não nasce para “descobrir” e “expressar” o embrionário aspecto de sua alma. Nasce para enfeudar sua pessoa ao amo mais nobre que encontre.
53º – A inteligência se torna robusta com os lugares comuns eternos. E se debilita com os de seu tempo e seu sítio.
54º – É fácil simpatizar com qualquer homem enquanto não opine.
55º – De nada serve ao medíocre emigrar para onde moram os grandes.
56º – Todos carregamos nossa mediocridade nas costas.
57º – Viver entre almas baixas exaspera em paixão nosso apetite pelo grandioso.
58º – Gastamos uma vida para compreender o que um estranho compreende em uma olhadela: que somos tão insignificantes quanto os demais.
59º – Quem olha sem admirar nem odiar não viu.
60º – Toda reta leva direto a um inferno.
61º – O homem culto tem o dever de ser intolerante.
62º – A porta da realidade é horizontal.
63º – As coisas mais nobres da Terra talvez não existam senão nas palavras que as evocam. Mas basta que ali estejam para que sejam.
64º – Educar é ensinar a se apaixonar pelo que carece de vigência.
65º – Tão somente o homem muito inteligente não possui a solução dos problemas atuais.
66º – A sabedoria se reduz a não esquecer jamais nem o nada que é o homem nem a beleza que nasce às vezes em suas mãos.
67º – Ensinar exime da obrigação de aprender.
68º – Observar a vida é interessante demais para perder tempo vivendo-a.
69º – O homem inteligente deve fracassar porque não se atreve a crer no verdadeiro tamanho da estupidez humana.
70º – O indivíduo não se torna interessante enquanto não se desilude.
71º – Em se vestir, não em se despir, consiste sempre a civilização.
72º – Nobre é a pessoa capaz de não fazer tudo que poderia.
73º – Duas condições são necessárias para que uma aristocracia nasça: que as leis não o impeçam e que não o facilitem.
74º – Viver é optar. E optar é ser injusto. Optemos, pois, pela injustiça menos ininteligente.
75º – O órgão do prazer é a inteligência.
76º – O bobo, para ser perfeito, tem de ser algo culto.
77º – A alma enferma não se sana suprimindo seus conflitos mesquinhos, mas se lançando entre conflitos nobres.
78º – Civilizada é a época que não reserva a inteligência para os trabalhos profissionais.
79º – O refinado se torna ridículo ao cabo de poucos anos ou de poucas léguas.
80º – Para nos preservarmos do embrutecimento basta evitar conversas de jovens e diversões de adultos.
81º – A alma é hera para muros de pedra, não se prende em paredes de cimento.
82º – Pensamento maduro é o que não esquece que tudo apodrece.
83º – A cultura é herança de família. Ou segredo entre amigos. O demais é negócio.
84º – A vida ativa animaliza.
85º – Só há epifanias no silêncio dos bosques. Ou no silêncio da alma.
86º – A alma humana em certas épocas tem mal hálito.
87º – A universidade educa enquanto ensina ao jovem a apaixonar-se por tudo que lhe será inútil mais tarde.
88º – Não devemos emigrar, mas conspirar.
89º – O Estado moderno é pedagogo que não licencia nunca os seus alunos.
90º – Quando a noção de dever expulsa a de vocação a sociedade se povoa de almas truncadas.
91º – Cristo ao morrer não deixou documentos, mas discípulos.
92º – O discípulo trivializa o pensamento do mestre ocultando as contradições que encerra.
93º – A inteligência é pouca coisa se a alma inteira não pesa sobre ela como sobre sua ponta.
94º – Devemos embalsamar a vida em ritos, para que não apodreça.
95º – A imbecilidade muda de tema a cada época para que não a reconheçam.
96º – As hierarquias são celestes. No inferno todos são iguais.
97º – A alma moderna é uma paisagem lunar.
98º – Stabilitas loci – como a regra beneditina o ordena. O errante erra.
99º – Uma cultura não é tradição autêntica senão quando se transmite no silêncio da noite como uma contrassenha clandestina.
100º – Entre civilização e comarca não há instância intermediária que mereça nossa lealdade.
101º – Todo pretendente legítimo morre no exílio.
102º – Só conhecem o fundo da alma humana o mercador de escravos e o proxeneta.
103º – Há um analfabetismo da alma que nenhum diploma cura.
104º – A história castiga inexoravelmente a estupidez, mas não premia necessariamente a inteligência.
105º – A prosa de César é a voz mesma do patriciado: dura, simples, lúcida.
A aristocracia não é um montão de ouropéis, mas uma voz taxativa.
106º – Tudo é volumoso neste século. Nada é monumental.
107º – A inteligência avança tomando crescente posse de seu ponto de partida.
108º – Tão somente entre amigos não há cargos.
109º – A alma se forja somente sob inúmeras atmosferas de sonhos.
110º – Um pouco de inteligência agrava ao indivíduo os seus problemas. Uma grande inteligência lhe os agrava ainda mais, mas também lhe os limpa.
111º – A quem pergunte com angústia o que cabe fazer hoje, respondamos com probidade que hoje só há espaço para uma lucidez impotente.
112º – Educar não é transmitir receitas, mas repugnâncias e fervores.
113º – A inteligência inventou os ritos para amparar o homem contra a sinceridade do tonto.
114º – Homem decente é o que se faz exigências que as circunstâncias não lhe fazem.
115º – A alma é quantidade que decresce à medida que mais indivíduos se agrupam.
116º – Só a inteligência fere; só a inteligência cura.
117º – Condenar-se a si mesmo não é menos pretensioso que se absolver.
118º – A prudência com que caminha o que viaja entre abismos parece pusilânime ao que circula pelas ruas.
119º – Sem rotinas religiosas as almas desaprendem os sentimentos sutis e finos.
120º – A única vitória é o olhar inteligente.
121º – Sentir-se criatura é sentir-se contingente, mas misteriosamente albergado.
122º – A inteligência que não desperta hostilidade é anódina.
123º – Para avançar deve-se girar ao redor de um ponto.
124º – Nadar contra a corrente não é estupidez se as águas correm rumo às cataratas.
125º – Não importa nossa mediocridade se em lugar de degradá-la em inveja nós a enobrecemos em vassalagem.
126º – Não confiemos no gosto de quem não sabe detestar.
127º – Libertar o homem é sujeitá-lo à cobiça e ao sexo.
128º – Não devemos nos assustar: o que admiramos não morre. Nem nos regozijar: o que detestamos tampouco.
129º – A educação sexual se propõe a facilitar ao educando a aprendizagem das perversões sexuais.
130º – Nem todo professor é estúpido, mas todo estúpido é professor.
131º – No último rincão do labirinto da alma grunhe um símio assustado.
132º – A felicidade caminha com os pés descalços.
133º – Não falemos nunca de Deus com voz melíflua.
134º – Os partidários de uma causa devem ser os melhores argumentos contra ela.
135º – Os indivíduos civilizados não são produtos de uma civilização, mas sua causa.
136º – Um pensamento não deve se expandir simetricamente como uma fórmula, mas desordenadamente como um arbusto.
137º – Só nós mesmos somos capazes de envenenar as feridas que nos façam.
138º – Só a ideologia da “saúde” rivaliza em astúcia com a ideologia da “cultura”.
139º – As grandes explicações imbecis do comportamento humano explicam adequadamente o que as adota.
140º – Nobre não é quem crê ter inferiores, mas quem sabe ter superiores.
141º – O sorriso é divino, o riso humano, a gargalhada animal.
142º – Impossível convencer ao tonto que existam prazeres superiores aos que compartilhamos com os demais animais.
143º – À lucidez de certos momentos junta-se às vezes a sensação de velar sozinho em uma cidade que dorme.
144º – O diabo não pode fazer grandes coisas sem a colaboração atordoada das virtudes.
145º – Os meios são obra da inteligência do homem e os fins geralmente de sua estupidez.
146º – A vida do moderno se move entre dois polos: negócio e coito.
147º – Não exponhamos nunca os defeitos de algo grande ante quem ignora que seja grande.
148º – Distinguir uma doutrina de suas aplicações permite ao tonto persistir em seus erros.
149º – Ouvir críticas estúpidas ao que detestamos nos incita a defendê-lo.
150º – O cristão sabe que o cristianismo mancará até o fim do mundo.
151º – A “vida” (entre aspas enfáticas) é o consolo dos que não sabem pensar.
152º – Quem não sabe condenar sem temor não sabe apreciar sem medo.
153º – Pensar contra é mais difícil que atuar contra.
154º – A liberdade à qual o homem moderno aspira não é a do homem livre, mas a do escravo em dia de férias.
155º – A alma alimenta-se do que há de misterioso nas coisas.
156º – A inteligência não cabe dentro dos limites de uma doutrina.
157º – Quem não quer senão amigos inteligentes corre o risco de morrer sozinho.
158º – A derrota de uma causa nobre importaria menos se não regozijasse tanto aos imbecis.
159º – Ninguém é ridículo sendo o que se é, por mais ridículo que seja o que se é.
160º – Só Deus pode persuadir; os demais só podemos despertar.
161º – Ao invés de adquirir polpa, espessura, substância, a vida se desbota, se amingua, empobrece, quando não se crê em outra.
162º – A solução que não esteja pronta para rir de si mesma embrutece ou enlouquece.
163º – A fábrica sinistra de argumentos em favor da absurdidade radical do mundo vacila ante a presença da menor coisa que nos preencha.
164º – Todo mecanismo liberta primeiro e escraviza depois.
165º – Nem derrotas nem desgraças cortam o apetite de viver. Só a traição o extingue.
166º – Oração, guerra e agricultura são as ocupações viris.
167º – Não há coisas triviais, só mentes triviais.
168º – Tudo, em um dado momento, depende do maior ou menor poder dos imbecis.
169º – As generalidades consolam o ignorante.
170º – As certezas são indigestas; só são nutritivas as suspeitas.
171º -Deus é hóspede do silêncio.
172º – Existe uma ignorância sábia: a que elege o que ignora.
173º – O tonto converte a ironia em vulgaridade e a simplicidade em grosseria.
174º – Não só o intelecto, em alguns a alma mesma zurra.
175º – O formalismo aristocrático evita a grosseria sem cair na impostura.
176º – A vida é deliciosa nos instantes em que se deixa pensar ou sonhar.
177º – Todo mendigo é meu irmão.
178º – Escutar o próximo é uma das mais penosas obras de misericórdia.
179º – O adulto inteligente é aquele onde perdura o menino e morre o jovem.
180º – Não se deve crer na vocação senão do que, como Sócrates, não cobra.
181º – Muitos poucos se comportam com a discrição adequada à sua insignificância.
182º – A sociedade moderna não educa para viver, mas para servir.
183º – Deve-se aprender a manejar as armas do adversário, mas com o devido asco.
184º – A inteligência isola; a estupidez congrega.
185º – Deve-se escolher entre vida rotineira e pensamento rotineiro.
186º – Com quem não esteja um pouco cansado de tudo não vale a pena dialogar.
187º – Dialogar com o imbecil é escabroso: nunca sabemos onde o ferimos, quando o escandalizamos, como o comprazemos.
188º – Deve-se viver para o instante e para a eternidade. Não para a deslealdade do tempo.
189º – Falemos em voz baixa.
Ainda que se grite o tonto não entende.
190º – O asfalto urbano só produz democratas, burocratas e putas.
191º – As convicções estúpidas têm a solidez do granito.
192º – À maioria das pessoas não devemos pedir que sejam sinceras, mas mudas.
193º – Bem e beleza não se excluem mutuamente senão onde o bem serve de pretexto à inveja e a beleza à luxúria.
194º – Latim e grego educam porque transmitem uma visão do mundo antagônica à atual.
195º – O homem raramente entende que não há coisas duradouras, mas que há coisas imortais.
196º – Quem sabe preferir não exclui. Ordena.
197º – Crendo rugir o jovem zurra.
198º – A liberdade é sonho de escravos. O homem livre sabe que necessita de amparo, proteção e ajuda.
199º – Os que confessam duvidar da imortalidade da alma parecem crer que nos interessa sua alma ser imortal.
200º – A ciência não educa porque não transmite do objeto que estuda senão a maneira de utilizá-lo.
201º – A presença de um imbecil entristece.
202º – A vida é um combate cotidiano contra a própria estupidez.
203º – O mais irônico na história é que prever seja tão difícil e haver previsto tão óbvio.
204º – O homem só é importante se for verdade que um Deus tenha morrido por ele.
205º – As humanidades clássicas educam porque ignoram os postulados básicos da mente moderna.
206º – Nada nos envergonha tanto como haver proferido trivialidades pomposamente.
207º – Está bem exigir ao imbecil que respeite artes, letras, filosofia, ciências, mas que as respeite em silêncio.
208º – Educar o indivíduo consiste em lhe ensinar a desconfiar das ideias que lhe ocorram.
209º – Uma educação sem humanidades prepara somente para os ofícios servis.
210º – Ser reacionário é haver aprendido que não se pode demonstrar nem convencer, só convidar.