RICORDANZA DELLA MIA INFANZIA – três sonetos de Bernardo Souto

JOÃO BATISTA

Eu sou a voz que clama no deserto,
Que faz tremer as águas do Jordão;
Sou filho de Isabel, eu sou João
Batista, que seguiu Jesus de perto.

Nutria-me de mel, frutos, insetos,
Até que um dia vi grande clarão
No céu da Galileia, era o Leão
Da Tribo de Judá (Rei do Universo).

Um pássaro infinito e luzidio
Tornou dourado o espelho desse rio
E fez inabalável minha fé.

Fui preso, torturado e degolado;
Mas, antes de morrer, gritei: “Louvado
Seja sempre Jesus de Nazaré!”

***

RICORDANZA DELLA MIA INFANZIA

Enfim revejo a casa em que nasci,
Soturna e majestosa como dantes.
Enfim revejo a lua no horizonte,
Entre as folhas do pé de sapoti.

Parei defronte à casa, e então senti
A aflição dos antigos navegantes
Que, nos mares sem fim, por uns instantes
Pressentem um estranho déjà vu.

Bem sei que o tempo nunca retrocede.
Bem sei que nunca saciarei minha sede
Das coisas que sonhei mas não vivi.

Ao menos me restaram as lembranças
Da casa em que morei na minha infância
E do mítico pé de sapoti.

***

A PRINCESA E O SOLDADO

Havia um capitão decapitado
Correndo nu pela floresta fria;
Havia um grande medo anunciado
No silêncio da tarde que morria.

Havia uma princesa e um soldado
Atrás do capitão, em romaria.
Havia um bravo rei transfigurado
No clamor do soldado em agonia.

Havia um unicórnio desalado
Carregando a cabeça dum soldado
E a princesa, que pálida dormia.

Havia um capitão decapitado
Guiando um unicórnio desalado
No sonho da princesa… Havia, havia!

*