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1.
a unidade transborda o infinito
um círculo de luz busca o centro intangível
dele se derrama outro círculo
a aurora incendeia a teia incessante de espelhos
reflexos manifestam seus nomes como se viessem a ser permanência
as esferas celestes inundam as fronteiras do agora e despertam
todas as coisas
um coro, quase em desafino, canta ao longe o primeiro nascimento
uma gota de vinho ultrapassa o abismo
falta pouco
para o amanhecer
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2.
os sinos anunciam o eterno
as flores do ipê buscam as sombras da tarde
que tomam as ruas
a vida repousa em espelho
os olhos ganham a leveza das aves
e a alegria se assenta em sacra sede
no desaperceber do deslumbramento
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3.
as palavras estraçalham a superfície do ser como aves de rapina
o ser é um
as palavras, legião
as palavras escorrem como um grupo de rebeldes que insistem em incendiar a capital
e ao transpor as muralhas encontram espelhos partidos
em mil pedaços
mas a luz do fim da tarde que traz contorno às montanhas
não é capaz de abarcar o sol
o um não pode ser nomeado
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Bernardo Lins Brandão é doutor em Filosofia e professor de Grego Antigo na Faculdade de Letras da UFMG. É editor da revista Nuntius Antiquus, tradutor de Plotino (Sobre o Bem ou o Um) e Agostinho (Do Livre-Arbítrio), autor do livro Rua Musas e escreve no blog Noites Áticas