…
Os séculos são uma coisa móvel.
Assim como não há o que havia,
o nada sobra e tudo tende à morte.
Gosto da vida como ela me ocorre –
um dia remendado em outro dia.
Tenho vinte e seis anos de preguiça…
Será que ainda tenho a alegria
de quando, bem sozinho, me lembrava
que Abel colhia os bens que a terra dava
que o chão, a grama e o resto lhe sorriam
que só viver no mundo lhe bastava,
e que por isso recebeu favor?
Vento que me sopraram nas narinas
que tipo de mensagens vai dizer?
O que diz uma noite sobre o Amor?
Quem somos, neste dia de primícias?
Pobres na manjedoura, a perceber
Um jeito mais feliz de sentir dor?
…
A sede no deserto
os bichos num estábulo,
o peso, a luz e o vácuo,
as obras dos Teus dedos
a estrela que caía
o sono, a morte e o medo,
vão todos esperando
a tal boa notícia
que vem dependurada
num ventre de menina
…
(Menino, as horas de tudo são tuas.
Ser gente é difícil, e vão te matar.)
…
Além-bar
Me encosto num balcão de bar
e se o mundo acabasse agora
terei deixado um olhar torto
sobre a superfície das coisas.
não estou preso no meu corpo
a minha luta é espiritual
contra as potestades do alívio
contra os espíritos da brisa.