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Alexandre Sugamosto é Mestre em Ciências da Religião, professor e compositor. Publicou a peça teatral Cárcere (Simonsen, 2017) e o álbum Atanário (Sun7, 2021), disponível em todas as plataformas de streaming.
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Noto
O vento carrega e arrasta a loucura
das casas, bandeiras, estepes funéreas
que soem prever a chegada das mudas
agora veem surdas
a imunda matéria.
As moças no campo com calos nas mãos
Mergulham nas tinas infantes sudários
Ali cerram olhos
fitando a tormenta
assim como estendem apertam as coxas:
O vento insufla, túmido e quente,
presságios e eflúvios
nas gaias urânias.
E mordem os lábios enquanto os vapores
Lhes trançam os pés
Adornados de gotas.
Os lares murados, guardando sigilos,
reviram os baús das mães ignotas.
E logo que o Noto abrasa as ramas,
Um eco abafado sibila nos campos…
Não eram os ares soprando o remanso
Mas deuses menores
Regendo a história.
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Barco Fantasma
E o fio da navalha na água
o reto rumo do remo
conserva o cadáver pirata
nos ópios do mar sereno.
E aqueles óbitos fétidos
centenas de polifemos,
Se atracam ao sangue da nave
cobiçam tesouros supremos.
Não vê aragem ou deserto
a frota rendida do medo
que encerra o cárcere incerto;
Cada marujo é um aedo
que entoa a ode liberto
no sal de luta e segredo.
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Triste Figura
Dedicado ao poeta Jorge de Lima
Que dom, que fina ternura
Cerziram tu’armadura e teu lacônico aspecto?
Que luzes, que raios fulgentes
Tingiram, resplandecentes,
A voz do teu intelecto?
Que línguas, que povos, rebanhos,
e que oceanos estranhos
te moldaram só, circunspecto?
Morreu o bom servo e menino
Viajante, rei, peregrino
Que sondava todo mistério?
Que hemisfério, que força arredia
Lançaram nas trevas infaustas
as noites de teu cavalgar?
Que ópio, que raiva e que sono
Que rei, que trova, que musa
Ainda te prendem o olhar?
Que vida, que céu tristonho
e que destino enfadonho
sonhaste em encontrar?
Que pai, que deus, que impostura
criaram tua triste figura?
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