ㅤ
I. Marta
Lucas 10:38-42
Marta, Marta, não vês o evidente.
De que servem a pressa e a certeza,
Que bem te faz toda essa gente à mesa,
Se quando o Amor te toca, não o sentes?
Abre os olhos, sou eu na tua frente.
Tua angústia te cega e te faz presa
Da morna e inofensiva correnteza
Que julgas violenta e tão urgente.
Mas ouve esta promessa que te faço:
Cada sorriso, beijo e cada abraço
Que perdeste, levados pelo rio,
Retornarão, refeitos, do vazio –
Quando aceitares este Amor sem fim,
Que não te pede nada além de um “Sim”.
ㅤ
II. Fotina
João 4:13-14
Duas, três, quatro, cinco e quantas mais?
A cada vez que a sede volta, aumenta
E sempre me empurrando, cega e lenta,
Àquele mesmo poço dos meus pais.
E já vão gerações assim – que achais?
Que o pecado é coisa que se inventa?
Esta velha aflição, torta e sangrenta,
Só reinaugura erros ancestrais.
Voltava ao poço, assim, uma cativa
Das cicatrizes e lembranças, vede.
Mas hoje ouvi o Espírito e a Verdade:
Deus dá, a quem Lhe pede, a água viva.
E até quem, como eu, rendeu-se à sede
Tem direito a sonhar com a Eternidade.
ㅤ
III. A mãe siro-fenícia
Mateus 15:21-28
“Senhor, já tive a fé que era vontade
De achar, dentro de mim, algo que brilha,
Uma única pérola, uma ervilha,
A semente sutil da santidade.
Livrai-me desta estúpida vaidade,
E dai-me a fé que cura, porque humilha.
Não por mim, Senhor, mas por minha filha,
Deixai qualquer migalha de piedade.”
“Mulher, porque és mãe, foste ensinada
Que o Amor, esta estranha doação
De carne e osso, e vinho e sangue e pão,
Não dá a fé que é joia lapidada –
Mas a que cresce em brilho a cada “não”
Que arrasta o teu orgulho pelo chão.”