De estação em estação – David Bowie, Nina Simone e as partes mais fundas da vida.

-Ana Júlia Galvan

Intro

Quando mais nova, eu não passava um dia sem ouvir música. Na verdade, ouvir música era uma de minhas principais atividades — pesquisar sobre os músicos de que gostava e buscar também pela obras que os influenciaram muito me alegrava, pois sentia que, ao fazê-lo, estava ampliando o meu repertório, explorando possibilidades, refinando meus gostos e entendendo o que me chamava a atenção de verdade. Sentindo brotar em mim um amor por certas bandas de rock, deitava-me no chão sobre o carpete marrom do meu quarto, a cabeça muito próxima do aparelho de som portátil ou nele apoiada, e me deleitava ouvindo os CDs recém-adquiridos. Havia algo naquela sonoridade suja e escrachada que me atraía — e não era uma paixão pelos moços rebeldes, mas pela própria ideia de rebeldia, de autenticidade, de expansão e de tomar para si a rédeas da própria vida. As baladas me faziam sonhar — coisa salutar, naquela idade como nas demais.

De lá para cá, tendo deixado muito da vida seca e rotineira se meter em meus gostos e interesses, fui largando o antigo hábito. Entretanto, quando a rotina me aperta demais e estou a ponto de mandar tudo para a cucuia, sinto despertar em mim a vontade de escutar música intencionalmente; isto é, não só deixando-a tocar de fundo, ouvindo-a enquanto presto atenção em outra coisa, mas devotando o meu tempo àquela canção ou àquele disco específico.
Dia destes, enquanto cumpria tarefas mecânicas do trabalho, coloquei para tocar o álbum Station to Station, do David Bowie, no impulso de aplacar o tédio da missão que cumpria. Aqui, devo fazer um parênteses para confessar que julgo, sim, o álbum pela capa, pois para mim a capa é a coroa do disco. Escolhi Station to Station porque já o tinha ouvido algumas poucas vezes tempos atrás, achei-o legal e tal — mas foi pela capa do disco que me apaixonei: o contraste da foto em escala de cinza com o fundo todo branco, límpido; o busto de Bowie recortado pela porta que mais parece um estranho portal; o rosto de olhar firme mas um tanto inexpressivo; as letras vermelhas em caixa alta, sem serifa, sem espaços, confundindo os nomes do artista e da obra. Fico imaginando a sessão de fotos, a seleção, a concepção, e penso em quanto trabalho é necessário para se chegar a um resultado como aquele: elementar, mas eficaz e perfeitamente conforme ao todo daquela criação artística.

Capa de “Station to Station”, álbum de David Bowie, lançado em 1976.

Pois fui ouvir o álbum mais uma vez e logo fui completamente tragada pela obra que julgava já conhecida minha (e quanto a isto me enganava). A faixa-título é um tanto assustadora no início, mas deve ter uns três, quatro, ou mais “momentos” diferentes — e a sua sonoridade é tão peculiar e demonstra tanta audácia artística que decidi reouvir o disco de cabo a rabo, desta vez com mais atenção e dedicação. Desde que entrei em contato com a sua obra, sempre achei Bowie um artista muito intrigante: se, por um lado, fazia-se mostrar em seus extremos por meio de suas personagens, por outro lado, há uma característica muito singular de mistério em sua personalidade — é como se, exprimindo fantasias em suas muitas fases, o homem David Jones criasse uma cortina de fumaça em torno de si, uma névoa que lhe permitia distanciar-se da vida pública e distinguir-se pessoalmente de sua própria criação — ainda que, da perspectiva do público, não possamos determinar com clareza onde se situam as fronteiras entre pessoa e persona.

Após ouvir as cinco primeiras faixas com o devido apreço e de resistir bravamente aos impulsos de sair dançando por aí com Golden Years e Stay — esta última, para mim, a definição do que é genuinamente descolado —, fui tomada de assombro pela enormidade de Wild Is The Wind, a última faixa do álbum. A canção é uma versão da música interpretada originalmente por Johnny Mathis e escrita por Dimitri Tiomkin e Ned Washington para o filme homônimo de 1957. (Enquanto escrevo este texto, ainda não assisti ao filme — será que vê-lo mudará as percepções que expressarei aqui?) Assim como Bowie, muitos artistas fizeram seus covers desta canção.

Antes, porém, de irmos ao que Bowie fez (porque — e deixo-o claro desde já — parece-me que ele tomou a música para si, como Johnny Cash “roubou” Hurt do Nine Inch Nails), peço que o leitor permita-me guiá-lo por duas outras versões desta canção. 

Mas antes ainda, tomo a precaução de advertir: não espere o leitor a avaliação de uma grande entendedora de música; sou apenas muito admiradora dessa modalidade artística e alguém que não consegue não se deixar envolver por certas obras. Este ensaio é uma tentativa de exprimir certas sensações, certas percepções. Se o leitor puder e quiser me dar um voto de confiança, vou conduzi-lo por essas impressões como o faria com um amigo muito estimado, a quem estivesse abrindo o meu coração.

*

As versões

(Para ouvir as versões listadas abaixo, basta clicar aqui. Sugiro que o leitor o faça, se possível, enquanto lê o que se segue, pois assim poderá experimentar também as nuanças das músicas — e concordar ou discordar do que digo aqui, e ir além de minha exposição.)

Faixa 1. Mathis: o fervor dos enamorados

A música original de Johnny Mathis é feita para um filme em que há algum tipo de romance, na época em que as trilhas sonoras de filmes inspiravam algum sentimento humano reconhecível mesmo para quem não assistira ao filme. Nesta, alguns versos são mais curtos do que nas demais versões por que passaremos aqui. Começa a música: 

Love me, love me, say you do
Let me fly away with you

Tais versos soam como conversa de namorados. Toda a música nesta versão parece sugerir isso, na verdade — parece que tudo o que o rapaz está tentando expressar é a sensação de frescor de um amor recém-encontrado; aquela sensação de vivacidade e de encantamento, de enxergar o mundo de maneira nítida e colorida pela primeira vez — é como se fosse um despertar da vida dentro dele; e esse despertar se dá justamente por essa paixão, esse “wild love” que ele tem pela mulher desejada e amada.

Diz a letra: 

You touch me
I hear the sound of mandolins 
You kiss me 
And with your kiss, the world begins 

Esta última linha aparece alterada nas outras duas versões: de “the world begins”, muda para “my life begins”. Tal mudança tem um grande impacto na direção que os outros dois artistas dão às suas versões desta música — na versão de Mathis, contudo, ela reforça a ideia do desabrochar dos sentidos de um coração que encontrou um novo norte para a sua vida em sua amada. O sujeito apaixonado passa a ver a realidade como se descobrisse que há vida atrás da vida — uma vida mais profunda, mais densa, de cores e texturas mais exuberantes, e que parece fora das horas, fora do tempo ordinário que comporta rotinas e compromissos.

Outro detalhe interessante é que a versão de Mathis termina com o seguinte verso:

and wild is my love for you

Verso este que desaparece na versão de Nina Simone (que será a segunda parada em nossa trajetória) e que segue ausente na versão de Bowie (a derradeira deste ensaio). O curioso é que, na versão de Johnny Mathis, tal verso parece ser o arremate perfeito para uma canção de amor: essa frase sintetiza tudo o que o sujeito esboça nos versos anteriores, e a maneira com que Mathis entoa esse último verso é tal como se o amante abraçasse a amada ao pôr do sol de um dia bonito e pictórico — como quem dissesse: “pois é, o meu jeito parece um pouco estranho; mas só me comporto assim porque o que sinto por você é irresistível e não cabe no meu peito”. É a vida transbordando dentro de si, precisamente como o sentimos quando nos sobe o fervor severo da paixão. É a enxurrada de convicções de quando nos apaixonamos e nos sabemos correspondidos. É a paixão se consolidando e ansiando transformar-se em amor.

Faixa 2. Nina: é sempre noite alta para os corações partidos

As músicas de Nina Simone costumam ter aquele jeitão de músicas da Nina Simone — é o tipo de canção que evoca a ambiência de um clube americano de jazz dos anos 1950, 1960; conseguimos imaginá-la sentada ao piano, com o coração sangrando diante de uma plateia que talvez não lhe dê a atenção que ela merece, etc., etc.; um pouco do clichê do artista talentoso e atormentado. As músicas de Nina Simone têm aquele jeitão de músicas da Nina Simone, dizia eu, e essa marca traz consigo também uma carga emocional muito própria: muitas de suas músicas trazem o peso de relações mal acabadas, de decisões ruins tomadas no impulso, de mil desentendimentos entre a mulher e o seu amado e de ruídos afetivos perpetuamente insolúveis.

A sua versão de Wild Is The Wind não poderia ser diferente. A música traz várias mudanças sutis, mas significativas, tanto para a estrutura dos versos, quanto para o seu conteúdo emocional. A começar pelas notas no piano no início: já nos primeiros segundos, experimentamos certa sensação indigesta; a atmosfera desta versão é, sem dúvida, bem diversa da de Mathis e bem a cara de Nina. A inclusão de um terceiro “love me” e a demora a que ela se permite já na abertura da letra deixam entrever uma carência afetiva jamais sanada: 

Love me, love me, love me
Say you do

Nina parece cantar a respeito de uma relação que de fato existe, mas na qual o amor não é uma via de mão dupla — a maneira com que ela entoa os versos dá a entender que o amor do ser amado é menos intenso, menos exigente, mais independente — e talvez mais frio — do que o dela; e por isso ela sofre. É uma súplica da mulher — como quem diz: “por tudo que é mais sagrado, ME AMA!”.

A versão de Nina trata não mais do deslumbramento do sujeito apaixonado, mas sim de vulnerabilidade e de solidão. Ela adiciona alguns versos que ajudam nesse ajuste de curso:

You’re Spring to me
all things to me
don’t you know you’re life itself

Será exagero meu apontar que a inclusão deste “don’t you know” dá um peso muito maior para a afirmação que vem na sequência, “you’re life itself”? Aqui, o deslumbramento que havia em Mathis dá lugar a indícios de certa dependência emocional do ser amado. A frase soa quase como uma ameaça, como o último recurso do amante instável e negligenciado: “por favor, não me abandone; por favor, me ame; se você não me amar, eu não viverei mais — será que não vê que não vivo sem você?”. A exclusão daquela última linha da letra de Mathis — “… and wild is my love for you” — também parece contribuir para a mensagem da música como um todo: essa ideia de amor louco e selvagem e emocionalmente instável já está contemplada na melodia, na voz, no andamento da canção de Nina; não há o porquê explicitá-la na letra. Fazê-lo soaria como uma “moral da história” — como soa um pouco na versão de Mathis, embora naquele contexto funcione bem.

Faixa 3. Bowie: a brisa gelada do outono

Chegamos, então, à versão de Bowie. Conforme falei no início deste ensaio, já tinha ouvido esta versão algumas vezes, mas, por algum motivo, ela nunca me chamara a atenção. Desta vez, porém, Wild Is The Wind simplesmente se abriu diante dos meus olhos, contou-me os seus segredos, murmurou dores que eu jamais experimentei — mas as quais agora posso imaginar, graças a essa música.

Esta é uma versão diferente das outras duas, e, sem dúvida, a minha favorita. A melodia do início parece ter uma qualidade aquosa — como uma nascente vertendo tímida que vai de pouco em pouco tornando-se corrente. Bowie também aumenta a repetição dos “love me” dos primeiros versos — canta-o quatro vezes, e faz pausas maiores entre versos e até palavras:

Love me 
Love me, love me 
Love me, say
You do
Let me fly
Away
With you

Essa combinação, aliada ao efeito de reverberação aplicado à sua voz, imprime à canção um caráter melancólico muito próprio — não é a mesma angústia da versão de Nina Simone, e não é nem de longe o júbilo da versão de Mathis. É uma sensação de frieza, de distância — é como se o eu lírico desta versão estivesse admitindo em seu íntimo que, embora o ser amado esteja presente aqui e agora, a natureza própria de ambos não será capaz de sustentar a relação; o outro escapa a seu alcance. A presença do outro é, ao mesmo tempo, um anseio e uma dor, como fica explicitado na maneira com que Bowie entoa os seguintes versos:

You 
Touch me
I hear the sounds
Of mandolins

A ênfase na palavra “you” revela uma mistura enorme de sentimentos — se no início, o “say you do” parece ser uma reação à distância do ser amado, o “you” tal como entoado nesses versos nos faz provar o gosto amargo da dor de uma relação amorosa conturbada tal como sentida por um coração exausto e esgotado de esperanças. Nos versos seguintes —

You 
Kiss me
And with your kiss, my life begins

— a dor torna-se assombro; é como se a imagem, o perfume, a textura, a cor, a voz e toda lembrança do ser amado o envolvesse não como um abraço, mas como uma amarração insuperável e dolorosa. Ele quer lutar contra o término inevitável mas pressente que a relação está prestes a se desfazer — como as folhas se desprendem das árvores, eles se desprenderão um do outro e seguirão o rumo que o vento lhes ditar. Bowie canta sobre como a pessoa amada é para ele a primavera — mas, ao contrário da vida radiante dessa estação, a sensação transmitida pela música é de frieza e de secura:

You’re Spring to me
All things to me
Don’t you know 
you’re LIFE
itself

Mais uma vez, é uma súplica ao ser amado — o sujeito implora-lhe que fique, que o ame, que não o abandone em sua já enorme solidão. Porém, de maneira diversa da música de Nina Simone, em cada um dos elementos desta versão de Wild is The Wind está presente a antecipação do fim de um amor já despedaçado, já seco, mas que não se enuncia como tal e  portanto perdura, indefinido. 

Não é à toa que esta faixa é a última de um disco gravado no que parece ser a época mais depressiva da vida de Bowie — se ouvirmos com atenção, tudo o que precisamos saber está na voz do cantor; e se por acaso certas nuanças não se tiverem feito claras até então, o clamor de Bowie nos últimos versos é a coroação do coração partido:

Like the leaf clings to the tree
Oh my darling, cling to me
For we’re like creatures
In the wind
And wild
Is the wind

Wild is the wind
Wild is the wind
Wild is the wind
Wild 
is 
the wind

Goste ou não da música, o amigo leitor há de convir: o que há aqui não é apenas uma canção, mas sim uma demonstração corajosa de completa vulnerabilidade por parte do artista. Coisa de outro mundo.

*

Da vida por trás da vida (pelos olhos de um artista)

Ouvindo essas versões de ponta a ponta, fiquei verdadeiramente admirada com a variedade de interpretações que uma mesma música pode gerar. Embora tenha sido ligeiramente modificada, a letra em si não sofreu grandes alterações — o seu conteúdo é essencialmente o mesmo nas três versões da música. Como é possível, então, que uma mesma música dê vazão a tantos sentimentos diferentes e a sensações tão diversas? Como é possível que cada um dos intérpretes tenham abordado o mesmo objeto de maneiras tão diversas — e tão belas, todas elas! —? Em que âmbito da consciência são gestadas as ideias, e como as mesmas palavras podem deixar transparecer tantas possibilidades? Haverá uma interpretação certa? Como dizer que apenas uma delas é a certa, se todas tocam tão fundo na alma humana?

Talvez o amigo leitor pense que agora estou indo longe demais — mas veja: falei mais acima que compreendi dores que jamais experimentei na vida por causa desta audição interessada da música; por ter sido tomada de assalto por emoções que até então eram-me desconhecidas, ouvi mais versões da mesma canção buscando por convergências que me explicassem o que a minha razão não abarcava na versão que ouvira primeiro e, para a minha surpresa, encontrei novos mundos, novas formas de enxergar o mesmo objeto, o que expandiu ainda mais a minha imaginação afetiva (se o termo ainda não existia, aí está, inventei-o agora mesmo). Tudo o que escrevi aqui foi para tentar articular o que se passou — o que se passa, ainda — no meu coração ao entrar em contato com esses sentimentos que me eram desconhecidos e, quem sabe, compreender conscientemente aquilo que somente a minha intuição alcançava. 

Alçando novas distâncias

Sei que, para o leitor, talvez nenhum dos artistas citados tenha grande valor. Mas gostaria que o amigo me acompanhasse por mais um breve momento, pois ainda tenho algo a dizer que me parece importante — que o leitor depois pondere o que vale reter desta minha exposição.

Ainda que eu não tivesse me dado a tanto trabalho (e, de fato, como tem sido trabalhoso exprimir essas coisas em palavras!), não posso deixar de pensar no seguinte: não é precisamente esta a grande sacada da obra de arte — fazer com que experimentemos outras realidades? Que compreendamos vidas diferentes das nossas? Que vivenciemos experiências comuns a toda a humanidade — tanto o auge como a fossa?

É claro que podemos e devemos fazê-lo com as grandes peças da música, do teatro, da ficção; mas não consigo ignorar a distância imensa que há entre a minha existência minúscula do dia a dia e o âmbito quase mitológico, e muitas vezes épico, de onde saem as grandes narrativas da humanidade tal como tendemos a encará-las. Sou uma pessoa comum, de visão mais ou menos limitada e com certas inclinações às quais não posso, ou não consigo, me furtar. E, de repente, porque decidi ouvir um disco quase contemporâneo meu com ouvidos mais atentos, deparei com um poço fundo e revigorante, cujas águas jamais me foram servidas e das quais eu talvez jamais bebesse, não fosse ter reservado quarenta minutos da minha atenção, entre uma tarefa e outra, a esse álbum do David Bowie.

Talvez esteja aí o maior poder da arte: o de modificar-nos de dentro para fora, (muitas vezes) apesar de nós mesmos, de nossas resistências e de nossas resoluções muito lógicas e muito convenientes; o de estender os seus braços longe o bastante para tocar-nos os corações, evidenciando feridas que negligenciamos e que precisam de ataduras limpas, lançando luzes a coisas que não conseguimos enxergar por conta própria — seja por miopia seletiva, seja por mera desatenção —, e revelando-nos uma miríade de possibilidades humanas, glórias e inglórias, imaculadas e imundas, cintilantes e opacas, e tudo o que há entre um e outro extremo. O artista é aquele que nos revela o que há no Céu, no Inferno e em todo o meio — se não por experiência própria, ao menos valendo-se de suas extraordinárias imaginação e técnica. 

Que alegria é poder penetrar em novas facetas da vida humana através de uma canção, de uma pintura, das curvas de uma escultura, das linhas de um poema…! Entrar na vida tal como vista pelos olhos do artista, e deixar que a obra entre em nós; que nos reacenda a fagulha do interesse e do gosto, que teima em extinguir-se no correr dos dias; que quebre, ainda que por um breve instante, a regra da nossa vida — para que assim nos tornemos, a um só tempo, mais universais e mais particulares.

Saio desta jornada sentindo-me renovada — um pouco mais complexa, mais capaz de sair de mim, de alçar-me a novas distâncias; alguém que subitamente adquiriu novas dimensões, novas experiências, e apreendeu algo que, normalmente, estaria fora de seu alcance. 

E foi porque isso me pareceu urgentemente importante que escrevi este ensaio; porque sinto-me como quem descobriu um tesouro e, transbordando de alegria, quis entoar aos quatro ventos os pormenores de sua feliz descoberta.