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I.
Vai, Musa, faz jorrar tua poesia!
Poupa-me do trabalho de cantar,
Pois já me falta idade, falta o ar,
E o Amor já não me faz o que fazia.
Para que não seja em vão tanta agonia
E sobre algo de mim neste lugar,
Dá, Musa, à minha história tão vulgar
Tua límpida e divina melodia!
A Musa não responde, a noite vem,
E a mim, só resta mesmo este rascunho
Que leio, já sem muita convicção,
Tentando acreditar que fiz um bem
Criando esta canção, de próprio punho,
Na mais perfeita e humana imperfeição.
(25/04/2022)
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II. Dois Tigres
Anda firme – dois tigres vão contigo.
O primeiro persegue-te agilmente,
E o outro (vê seus rastros!) vai à frente.
Não existe, entre os dois, menor perigo.
Se demorares muito em teu abrigo,
O que te segue alcança-te, inclemente.
Se tratares tua rota indocilmente,
Encontrarás no outro o teu castigo.
Quais duas feras te impõem esta vil dança,
Na qual um passo em falso te condena
E não andar é igual fatalidade?
“Contenho-me – Ou morro de Esperança.”
Tu ris, sumarizando a dura pena:
“Apresso-me, ou sucumbo à Saudade.”
(21/11/2021)
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III. Batismo em Petrópolis (Três Pedros)
Abra bem os seus olhos, Pedro, e veja
A força destas rochas empilhadas.
Quantos corações vis e almas cansadas
Não foram perdoados nesta Igreja?
Nela jaz outro Pedro, rei servil
Que assumiu com altivez a empreitada
De ter a vida inteira dedicada
A Deus, e às pessoas do Brasil.
Que a lição desta vida, assim doada
Seja a canção que anima a sua estrada:
Leve também sua cruz com galhardia.
São Pedro – ouvi a prece deste dia:
Mostrai a este Pedro pequenino
Que todo rei e santo foi menino.
(09/04/2022)
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